Dez terreiros de candomblé se uniram para serem contemplados pelo edital de chamamento público “Salvaguarda Patrimônio Imaterial”, coordenado pelo IPAC

Um fato histórico no Recôncavo Baiano marcou a passagem do ano de 2020 para 2021: dez terreiros de candomblé se uniram para serem contemplados pelo edital de chamamento público “Salvaguarda Patrimônio Imaterial”, coordenado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).

Seis anos após o recebimento do título de patrimônio imaterial da Bahia, as dez casas sagradas, localizadas nos municípios de Cachoeira e São Félix, fortaleceram os laços e obtiveram a pontuação mais alta (92,1), entre todas as propostas, com a apresentação do projeto “Patrimônio Sagrado do Recôncavo”.

Os templos Asepò Eran Opé Olùwa – Viva Deus, Humpame Ayono Huntóloji, Ilê Axé Itaylê, Ilê Axé Ogunjá, Inzo Nkosi Mukumbi Dendezeiro, Ogodô Dey, Aganju Didê – Ici Mimó, Loba’Nekun – Casa de Oração, Loba’Nekun Filho e Raiz de Ayrá vão ser contemplados com o recurso público de R$ 900 mil, que será destinado à realização coletiva de cinco ações prioritárias: videodocumentário, portal virtual, plano planialtimétrico, publicação impressa e plano de salvaguarda.

Após a publicação do edital de chamamento público que atende à execução dos incisos I e III da Lei Aldir Blanc (LAB), em outubro de 2020, os dez terreiros decidiram se unir para pensar, elaborar e executar o projeto “Patrimônio Sagrado do Recôncavo” ao longo dos três primeiros meses do ano de 2021. Para construir a proposta aprovada, cada zelador/zeladora destinou um representante de cada terreiro, que, de maneira coletiva, objetivaram “caminhar com as próprias pernas”, com autonomia nas decisões dos seus interesses, sendo, portanto, proponentes.

“A união dos terreiros é inédita e certamente será um marco histórico. Que todos nós, terreiros patrimonializados, tenhamos a sabedoria e a consciência necessária para honrar nossos compromissos com o sagrado e com o que foi acordado durante a elaboração coletiva do projeto para salvaguarda do nosso patrimônio. Uma vitória para todos nós que nunca tivemos essa oportunidade de gerir coletivamente um recurso. É muita responsabilidade. Que os orixás e os voduns nos guiem e que possamos ter resultados positivos e transparentes desse Prêmio”, destacou Gayaku Regina, zeladora do Humpame Ayono Huntóloji.

As ações do projeto “Patrimônio Sagrado do Recôncavo” foram pensadas a partir da ideia de salvaguarda dos dez terreiros, que receberam o título de patrimônio imaterial do Estado da Bahia em 2014. Dentre as atividades do projeto, está prevista a atuação de dezenas de filhos e filhas de santo das casas, como forma de integrar a comunidade religiosa e torná-la ainda mais participativa nos editais públicos, voltados para os povos de comunidades tradicionais.

“A aprovação do projeto chegou para nós como uma conquista e um sinal de esperança em tempos melhores, sobretudo agora nesse momento de pandemia, onde estamos com nossas atividades religiosas e culturais praticamente suspensas. A atuação efetiva de nossos filhos e filhas no projeto torna esse momento ainda mais importante e necessária para a comunidade religiosa do Recôncavo”, enfatizou Idelson Salles, Babalorixá do Ilê Axé Ogunjá.

Para participar do chamamento público, os terreiros tiveram que ser representados por uma Organização da Sociedade Civil (OSC). Após consulta de documentação, a organização vinculada à uma das casas sagradas que estava apta para concorrer foi a Associação Amigos de São Gerônimo, entidade legal do Terreiro Aganju Didê – Ici Mimó, que tem como representante legal e zelador, Pai Duda de Candola.

Definida a OSC celebrante do termo de fomento, cada zelador e zeladora designou um representante por terreiro, que teve a responsabilidade de acompanhar as diversas reuniões virtuais que foram realizadas para elaboração da proposta. São eles: Ramon Trigo Júnior (Asepò Eran Opé Olùwa – Viva Deus); João Vanderlei de Moraes Filho (Humpame Ayono Huntóloji); Edite Marques (Ilê Axé Itaylê); Juliana Costa Santos Dias (Ilê Axé Ogunjá); Cecília Thomas (Inzo Nkosi Mukumbi Dendezeiro); Marisa Mateus (Ogodô Dey); Daniel Santana (Aganju Didê – Ici Mimó); Ana Clara Silva Dias (Loba’Nekun – Casa de Oração); Antônio Leonardo (Loba’Nekun Filho); e Tacun Lecy (Raiz de Ayrá). Além disso, o Ici Mimó designou um profissional da área cultural, o museólogo Jomar Lima para coordenar os trâmites administrativos e de documentação, ao lado de sua equipe formada pelo comunicólogo Roberaldo Galiza e pela assistente social Sheyla Monteiro.

O resultado final foi publicado em 18 de dezembro de 2020 e o Termo de Fomento foi assinado cinco dias depois (23). Atualmente, os terreiros aguardam o repasse do recurso, que conforme está previsto no edital deverá ser realizado em uma única parcela, após a assinatura dos Termos de Fomento.

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