MARAGOJIPE: Morre por covid-19 garçom lendário em Salvador, que teria levantado do caixão quando criança

Na última segunda-feira, por conta da covid-19, a saideira chegou. Um dos personagens mais folclóricos, carismáticos e queridos de toda uma geração de boêmios, artistas, desocupados, alcoolistas, hippies, ativistas, citadores de frases de livros que não leram, arrivistas, adúlteros, exibicionistas, aleatórios, comunistas, briguentos, jornalistas, infelizmente, se foi.

Nascido no povoado de Nagé, em Maragojipe, no Recôncavo baiano, Sales não fez do ato de servir um sacerdócio, como os clichês de obituário insistem em romantizar. Tampouco foi um ouvinte insuspeito de descasos amorosos, na figura quase religiosa do cancioneiro de Reginaldo Rossi. Ser garçom era seu ganha-pão, principal fonte de sustento da família. Foi também a forma como se conectou com tanta gente, atravessando longas madrugadas primeiro no bar Berro d’Água, no Porto da Barra, transferindo-se depois para o Pós-Tudo, no Rio Vermelho.

O jornalista e escritor Antônio Pastori narra uma das histórias mais insólitas envolvendo o amigo. É tão miraculosa que não dá pra precisar onde termina o fato e começa a colorida versão, como naturalmente ocorre em sagrados espaços que agrupam mesas, cadeiras, freezer e bebidas.

“Ele tinha dois ou três anos de idade, quando pegou uma virose pesada. Estamos aí falando da década de 1950. O médico deu por desenganado. Depois, o mesmo médico disse ‘ele morreu’. Foi aquela comoção na família. Todo mundo no velório. Um caixãozinho, pequenininho. Todo mundo chorando. E eis que, de repente, Sales levanta e mostra que estava vivo. Imagine? E viveu bem e viveu muito. A morte de Sales foi um paradigma quebrado, porque ele driblou a morte no início da vida. Dessa vez, não teve jeito”.

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