MARAGOGIPE: Casal de idosos são exemplo de amor e cumplicidade

O que é mais lindo que o amor? O poeta Luís Vaz de Camões já dizia em no Soneto, publicado em 1598, que o "amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente;... é querer estar preso por vontade". O amor ultrapassa as barreiras do tempo e o professor de redação Osvaldo da Silva Lessa Filho, 78 anos, fez provar isso ao escrever uma carta apaixonada para a, então, namorada Adair dos Santos Lessa, 72, em 1969.

Sem medo de expor o sentimento, Osvaldo declarou: "Ah! Seu pudesse! A você que tanto estimo, daria o céu e as estrelas. Mas, se não posso, desejo... Que todas as flores e cravos que ao mundo brotam, enfeitem a toda sua vida!". Cheia de metáforas românticas expressando o coração de um homem apaixonado, a carta completa 52 anos de existência neste sábado.

São mais de 20 cartas escritas a punho pelo professor para a namorada, carinhosamente chamada de Daia. Esquecidas pelo tempo de uma vida de 46 anos de união do casal, elas vieram novamente à luz, recentemente, quando a filha mais velha do casal as encontrou por acaso.

"Estava arrumando a casa, mexendo nas coisas, quando encontrei essas cartas no guarda-roupa. Então decidi falar delas, pois meu pai sempre gostou de escrever. Ele sempre era convidado para escrever dedicatórias de livros e faz um ano que descobri que ele fez um para mim, em um livro antigo", disse Raida Lessa, 43.São mais de 20 cartas escritas a punho por Osvaldo para Adair.

A história de amor começou quando ela tinha 12 e ele 14 anos. Na época, os futuros pombinhos cursaram na mesma escola, no Colégio Estadual Luiz Tarquínio, na Boa Viagem. "Eu fazia a (antiga) 6ª série e ele a 8ª. A primeira vez que o vi, ele estava com uma moça. Toda a noite ele ficava com essa moça e ficava me olhando", relembrou Adair.

Um dia, ela encontrou uma amiga e então desabafou. "Esse rapaz está com a namorada e não tem vergonha na cara", disse. Osvaldo na rua Polydoro Bittencourt e amiga de Adair no Monte Serrat. Um dia a moça resolveu investigar e descobriu que a, então, suposta namorada era irmã de Lessa. Sabendo disso, no dia seguinte, "eu dei uma risadinha e ele deixou a irmã e pegou o mesmo ônibus que o meu e puxou conversa", recordou Daia.

O apóstolo Paulo descreve o amor no livro bíblico de 1ª Coríntios como paciente e bondoso e que "não inveja, não se vangloria, não se orgulha [...] Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". Atualmente, Osvaldo e Adair vivem em Nagé, um povoado de Maragogipe, no Recôncavo Baiano. Ele sofre de mal de Alzheimer - doença degenerativa que destrói as funções mentais, levando a pessoa à demência -, sem reconhecer a pessoa que tanto amou.

"É uma doença que não tem volta. Hoje eu cuido dele e só que tenho é amor, carinho e dedicação para cuidar dele", disse Adair, revelando também o medo do seu coração. "Meu único medo hoje é que eu vá primeiro que ele. Todo dia eu peço a Deus que ele não me leve primeiro que Osvaldo porque eu estando aqui posso cuidar dele", lamentou.

Uma ex-aluna e atual amiga da família recordou dos dias que participou de um pequeno grupo de estudo na casa de Osvaldo. "Ele era muito grosso e exigia da gente, mas mesmo sendo grosso na sala de aula ele era muito romântico com tia Dai. Muito respeitador. Ele nunca tomava uma decisão sem antes perguntar a opinião dela. Eu via isso muitas vezes. Era como se a última palavra fosse dela e ele acatava a decisão dela", revelou Caroline dos Santos, 42.

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