Ainda na madrugada desta quarta-feira, 31 de maio, o vice-prefeito de Cruz das Almas, André Eloy (PDT), expressou por meio de suas redes sociais a sua indignação a respeito de um trabalho de combate e repressão feito pela 27ª CIPM durante a queima das espadas de fogo que aconteceu entre a Rua Ruy Barbosa (antiga Rua da Estação) e a Rua Barão do Rio Branco (antiga Estrada de Ferro) onde acontecia uma festa promovida pela Prefeitura, denominada de "Vem São João!", para dar abertura oficial às comemorações do mês de junho no município. Neste dia, o prefeito Ednaldo Ribeiro, divulgou em praça pública a grade definitiva de atrações musicais que irão se apresentar durante os 5 dias de festas no Circuito principal Luz Gonzaga e no alternativo que leva o nome do saudoso radialista Othon Silva.
Enquanto os artistas se apresentavam no palco montado na Estrada de Ferro, em paralelo, acontecia a queima das espadas de fogo. A tradicional "Guerra de Espadas" como é chamada a queima desses artefatos em vias públicas está proibida por lei desde 2011 quando o Poder Judiciário acolheu denúncias do Ministério Público onde em anexo havia o pedido de cancelamento desta cultura no município sob alegação de que a Guerra de Espadas, embora seja tradicional, anualmente causa danos à integridade física de pessoas que participam da festa de São João em Cruz das Almas.
"É triste presenciar novamente a ação truculenta da PM na "alvorada", tratando os cidadãos como marginais. O confronto entre a PM e a cultura é desnecessário. Essa festa tem mais de um século de tradição. Ao lado do local onde jogaram uma bomba de efeito moral, vive minha mãe, uma idosa doente. Pedimos o bloqueio das ruas e o controle de acesso, em vez de agredir as pessoas. Nem todos nas ruas são espadeiros. Meu filho de 10 anos queria conhecer o movimento cultural e por pouco não presenciou uma cena lamentável perto da casa da avó.
É hora de alguém levantar a voz e acabar com isso. Estou disposto a dialogar com as autoridades estaduais em busca de um equilíbrio. A polícia e a justiça não conseguiram eliminar a tradição de soltar espadas. A regulamentação é a solução! #Respeito", externou André em post público em suas páginas sociais.
As críticas não se limitaram apenas ao comando da 27ª, mas também ao chefe do Executivo Municipal, por ter tomado uma postura "neutra" em relação aos espadeiros. Segundo André, o prefeito deveria adotar a postura de defesa aos espadeiros que só querem manter a todo custo a tradição, mas que ao seu ver, não encontram o apoio necessário vindo por parte do poder público municipal. Num segundo post em vídeo, André reverbera a sua insatisfação ao ouvir o prefeito Ednaldo numa entrevista a um programa de rádio concedido a uma emissora FM da cidade.
Em Nota Oficial, o comando da 27ª CIPM comunica a população o que de fato houve dando a sua versão ao ocorrido
"O final da noite do dia 31 de maio, marca o início da comemoração dos festejos juninos em Cruz das Almas, o evento festivo ocorre na rua conhecida como Estrada de Ferro, local da montagem de um palco onde bandas se apresentam e uma verdadeira multidão comparece para se divertir. Essa parte da festa é conhecida como Esperando o São João. Já nos primeiros segundos do dia 01 de junho, o show musical é interrompido para uma queima de fogos de artifício celebrando a chegada do mês do São João, dando início assim à segunda parte da festa conhecida como Alvorada. Após a queima, o show musical continua.
Contudo, em uma rua perpendicular, contígua à Rua da Estrada de Ferro (onde uma multidão se concentra para se divertir no show musical), centenas de espadeiros tradicionalmente se reúnem para a prática perigosa e criminosa da guerra de espadas de fogo (há mais de uma década que soltar espadas é considerado crime, pois já matou diversas pessoas e mutilou várias outras).
Além disso, com a marginalização da soltura de espadas, o tráfico de drogas passou a ser um dos grandes patrocinadores dessa prática arriscada e criminosa, sendo muito comum a presença de diversos traficantes armados vendendo drogas misturados aos espadeiros. Em 2011, através de uma ação movida pelo Ministério Público da Bahia, o Poder Judiciário proibiu a fabricação e uso de espadas por conta do perigo contra a vida das pessoas, enquadrando-a no Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003). Tendo sido considerada criminosa, a repressão à fábricação e ao uso das espadas de fogo é dever da PMBA em cumprimento às leis e decisões judiciais.
Diante desse cenário, visando preservar a vida, a integridade física, psíquica e patrimonial dos cruzalmenses (já que várias pessoas ficam acuadas dentro de suas casas com pavor de serem mortas, feridas ou terem a sua casa ou seu estabelecimento comercial incendiado pelas espadas de fogo).
A 27ªCIPM desencadeou no dia 31 de maio de 2023, às 19h, a Operação Alvorada, que contou com o emprego de 62 policiais militares, pertencentes à 27ªCIPM, CIPE LN e Rondesp Leste, dentre estes , 09 Oficiais além de 15 viaturas e 01 base móvel.
A operação foi complementada à 00h30 do dia 1° de junho, com o intuito de garantir a segurança para as pessoas que estavam na Av Rio Branco e Av. Rui Barbosa, popularmente conhecidas como Estrada de Ferro e Rua da Estação respectivamente e nas ruas adjacentes, protegendo-as da prática criminosa da soltura de espadas de fogo, que já causou a morte de diversos cruzalmenses.
Porém, quando o comboiou da PM adentrou à rua Rua da Estação, as viaturas foram recebidas por grupos de espadeiros que atiraram espadas na direção das guarnições da Polícia Militar, o que acabou resultando na quebra do vidro de uma das viaturas. Em determinado momento, garrafas também foram arremessadas.
Diante da agressão, os policiais fizeram o uso progressivo da força, utilizando munição química no sentido de conter as agressões que ameaçavam todas as pessoas, inclusive os policiais.
Como resultado, algumas espadas foram apreendidas, apesar de nenhuma prisão ter sido realizada. Porém a prática criminosa da soltura de espadas foi controlada, garantindo a tranquilidade dos moradores, a sua integridade física e patrimonial, em razão da possibilidade de incêndio causado pela espada de fogo. A Operação Alvorada foi encerrada por volta das 06:00h do dia 01/06. Lamentavelmente, neste ano, a ação da PMBA contou com uma dificuldade extra por conta de um irresponsável instigamento aos espadeiros contra a atuação da PM no combate às espadas de fogo. Complicando ainda mais a situação, durante o dia 31/05, houve a divulgação de fake news, dizendo que alguma liderança política havia liberado a guerra de espadas de fogo na Rua da Estação, no evento Alvorada.
Isso contribuiu para que se gerasse uma expectativa nos espadeiros que acabou sendo frustrada com a chegada da PM, gerando ainda mais tensão e acirrando o conflito.
Ano passado conseguimos frustrar significativamente a soltura de espadas na Rua da Estação (evento tradicional dos espadeiros conhecido como Alvorada). Este ano, conseguimos controlar e debelar completamente esta prática criminosa na Rua da Estação".
Informações do repórter Marcelo Santos-DRT-2135 para a redação do Jornal Forte no Recôncavo
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