SANTO AMARO: Bembé do Mercado completa 134 anos de enfrentamento ao racismo e celebração à liberdade

Maior candomblé de rua do mundo, o Bembé do Mercado, realizado em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo, completa neste ano 134 anos de existência. A tradicional celebração, que neste ano tem 5 dias de festejos, comemora a abolição da escravidão com a assinatura da Lei Áurea, o evento será realizado até o domingo (14) no mercado da cidade.
Realizado desde o primeiro ano pós-abolição, em 13 de maio 1889, pelo sacerdote João de Obá, ele é reconhecido como Patrimônio Cultural Nacional desde 2019 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2012 pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac). O Bembé é um evento que tem como pilar a preservação da memória ancestral dos negros recém-libertos e dos negros livres que lutaram pelo fim da escravidão e também pela liberdade religiosa.
Dedicado ao culto de Oxum e Iemanjá, as comemorações giram em torno dos preceitos do candomblé, sendo dividido em cerimônias fundamentais como Ipadê de Exú - momento em que se saúda o orixá Exú, responsável pela proteção do mercado -; Orô de Iemanjá e Oxum - cerimônia em que as duas divindades são agraciadas com alimentos típicos -; Xirê do Mercado - festejo em que se saúda e dança para todos os orixás e a entrega dos Presentes destinados aos orixás das águas - momento de entrega dos balaios e oferendas na praia de Itapema com objetivo de agradecer a proteção e as bençãos recebidas.

A celebração é uma reafirmação da cultura afrobrasileira através de cantos sagrados, toques de atabaques, oferendas, vestes estampadas e coloridas, com a reunião de integrantes de diversos terreiros de Santo Amaro da Purificação e de outras regiões da Bahia, que se juntam no mercado da cidade para saudar os orixás e a ancestralidade africana. Os atos fortalecem ainda os laços entre terreiros e comunidades quilombolas, preservando o culto aos orixás como um importante alicerce no enfrentamento do racismo religioso na Bahia e no Brasil.

O evento atrai pessoas de todo o país e conta ainda com apresentação de manifestações culturais herdadas da diáspora africana como o Nego Fugido, encenação que retrata a violência da escravidão; o Lindro Amor, cortejo de mulheres criado para comemoração das festas de São Cosme e Damião; a Burrinha, a Puxada de Rede, grupos de sambas de roda, bumba-meu-boi, capoeira e o Maculelê.

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