No dia 27 de novembro de 2019, sua vida foi brutalmente interrompida por José Alexandre Passo Góes Silva, seu ex-companheiro, que a assassinou a tiros quando ela retornava das aulas na companhia de uma amiga.
José Alexandre não aceitava o fim do relacionamento, já havia agredido a estudante e a ameaçava constantemente. A vítima tinha uma medida protetiva emitida pela Justiça de Cachoeira contra o ex-companheiro, que é filho de um juiz do tribunal baiano. Além disso, outra medida protetiva chegou a ser solicitada em dezembro de 2018, na comarca da cidade vizinha, São Félix (BA).
Quatro anos após o crime, o processo corre em segredo de justiça e encontra-se em andamento. O acusado está preso de forma preventiva no Conjunto Penal de Feira de Santana e será levado a júri popular.
Leticia Ferreira, advogada e diretora da Tamo Juntas, organização que presta assistência a mulheres em situação de violência e que integra a articulação da Semana Elitânia de Souza, relata que foi sorteada uma lista preliminar para composição do júri popular. “Agora nós estamos aguardando que a vara criminal de Cachoeira agende o tribunal do júri, que é quando ele novamente será interrogado, bem como as testemunhas”, descreveu a advogada habilitada no processo como assistente de acusação.
O assassinato de Elitânia levantou mais uma vez o alerta sobre a segurança das mulheres negras no Brasil. Em 10 de dezembro de 2019 – em razão do feminícidio da quilombola – o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e a Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres emitiram uma nota conjunta para o término da violência contra as mulheres.
A interrupção abrupta, violenta e misógina da vida da quilombola, está entre os 1330 casos de feminicídio que ocorreram no Brasil, somente em 2019, segundo levantamento do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A média de feminicídio no ano em questão foi de 3,64 por dia.
Segundo o Anuário, em 2022 houve um registro de 1.437 casos no país, o que representa um aumento de 6,1%, em comparação a 2021. As tentativas de feminicídio aumentaram 16,9%. O perfil majoritário das vítimas fatais é de mulheres negras (61%), que têm entre 18 e 44 anos (71,9%), e foram mortas pelo parceiro íntimo (53,6%). Sete em cada dez feminicídios aconteceram dentro de casa.
Na época do crime, a UFRB chegou a se manifestar. Hoje ocupando o cargo de pró-reitora Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (PROPAAE) da instituição, a Dra. Denize Ribeiro, que também é coordenadora do NEGRAS e pesquisadora no Coletivo Angela Davis, conta que pensa em criar um espaço para acolher e encaminhar mais precisamente situações de violências na universidade.
“Quanto ao que possa acontecer fora da UFRB, temos também que ter um protocolo do que fazer. Estamos discutindo a melhor forma da UFRB se posicionar em apoio às vítimas e contra todo tipo de violência”. Denize também foi responsável por organizar a primeira audiência pública do caso. O Coletivo Angela Davis participou de várias iniciativas, protestos, caminhadas, discussões, denunciando e cobrando justiça por Elitânia.
Informações da Revista Afirmativa
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