A dose utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm), a mesma empregada nos imunizantes contra a Covid-19 da Pfizer/BioNTech e da Moderna, e que vem sendo estudada por outras farmacêuticas para o combate a tumores. No final de novembro, a diretora da Agência Federal de Medicina e Biologia (FMBA, da sigla em inglês) do país, Veronika Skvortsova, falou que foram quase três anos de testes.
Porém, sem mais detalhes divulgados ou a publicação de estudos, não há informações exatas sobre para quais tipos de câncer a vacina será destinada. Além disso, não foi esclarecido se a oferta das doses será já como tratamento para a população ou como parte de testes clínicos em humanos. A falta de transparência é motivo de crítica entre os especialistas:
"É bem provável que existam estudos em andamento com o uso desta tecnologia, mas o ideal seria entender como esse procedimento será realizado. Acredito que deva estar sendo planejado um estudo com uma amostragem de pacientes, e não a aplicação da vacina direta para a população como uma terapia já aprovada para uso", avalia Maria Ignez Braghiroli, oncologista clínica e membro do Comitê de Tumores Gastrointestinais da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
É como pensa também a infectologista e mestre em Saúde Pública Luana Araújo, que publicou um vídeo no Instagram comentando sobre o assunto: "Sim, estamos cada vez mais próximos de novas vacinas contra o câncer. Entretanto, anúncios científicos de verdade se dão através da transparência, da publicação dos dados, do compartilhamento de informações pelos estudo. E não temos nada sobre essa vacina da Rússia. Então me resta um ceticismo", disse.
O desenvolvimento de novos medicamentos, como remédios e vacinas, envolvem diversas etapas de estudos necessárias para que agências reguladoras analisem a segurança e eficácia do produto e o aprovem para a venda. Após ser desenvolvido, o medicamento é submetido a testes pré-clínicos, com animais em laboratório, e depois a pelo menos três etapas de estudos clínicos, com humanos.
Os dados desses testes são publicados, após análises, em revistas científicas, o que garante a confiabilidade das informações. Além disso, eles são encaminhados ao fim dos estudos para a agência reguladora, como a Anvisa no Brasil, que os avaliará para decidir sobre a aprovação do medicamento.
Em junho, o ministro da Saúde russo, Mikhail Murashko, disse que os testes pré-clínicos, com animais em laboratórios, tinham previsão para terminar apenas neste ano e que a expectativa era "obter os primeiros resultados até o final do ano e iniciar os testes clínicos".
Quando a criação da vacina foi anunciada, em abril, Veronika mencionou testes para câncer colorretal, melanomas e glioblastomas. De acordo com Murashko, a dose foi desenvolvida em conjunto por cientistas do Centro Nacional de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, do Instituto de Pesquisa Oncológica Hertsen de Moscou e do Centro de Pesquisa do Câncer Blokhin.
O diretor do Gamaleya, Alexander Gintsburg, disse à TASS que os ensaios pré-clínicos da vacina demonstraram que ela suprime o desenvolvimento de tumores e possíveis metástases. Em novembro, a diretora da FMBA afirmou que experimentos com animais com adenocarcinoma intestinal altamente maligno, um tipo grave de câncer colorretal, teriam apresentado uma redução de 75% a 80% dos tumores após o imunizante. Porém nenhum dado foi publicado.
Informações de O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário