Estudantes de São Francisco do Paraguaçu, município de Cachoeira (BA), criam sua própria mídia local

Um levantamento divulgado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que mais de 70% das pessoas que vivem as cidades fazem uso da internet, contra apenas 44% das que estão em áreas rurais, que enfrentam,entre outras questões, maiores dificuldades no acesso ao mundo digital e aos meios de comunicação. Foi pensando nessa falta de conectividade que alunos de escolas de São Francisco do Paraguaçu, distrito pertencente ao município de Cachoeira (BA), organizados na Associação dos Remanescentes de Quilombo, decidiram criar sua própria mídia, o Jornal Sala Verde, que se tornou uma alternativa à ausência de representatividade nos conteúdos que chegam à comunidade. O projeto foi um dos destaques da última edição da premiação nacional Desafio Criativos da Escola.

A ideia teve o apoio e mediação dos estudantes do Programa Social de Educação, Vocação e Divulgação Científica na Bahia, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que desde 2014 realizam atividades de educomunicação na região, com o intuito de apoiar os jovens no processo de ampliação da voz dos moradores. Foi assim que cerca de 30 estudantes quilombolas se dividiram nos processos de escolha dos temas e na produção de reportagens que abordaram os desafios e dilemas da comunidade, mas sem deixar de mostrar a riqueza cultural encontrada nas brincadeiras e lendas locais.

Uma das alunas, por exemplo, escreveu uma crônica sobre a violência contra a mulher, assunto que vem sendo recorrente entre as meninas do local. O texto ecoou entre os jovens, colaborando, inclusive, para a reflexão de alunos que viviam situações semelhantes em suas próprias casas. Para espalhar essas histórias com o restante da comunidade, os estudantes produziram todas as matérias em dois formatos diferentes, impressas em papel e em áudio para um programa de web rádio, com conteúdos acessíveis aos moradores que não sabem ler.

A troca de saberes entre a universidade e a comunidade pode proporcionar aos universitários outra visão sobre Educação, já que eles puderam experimentar a prática da educomunicação para além da sala de aula. Uma das integrantes do grupo, a jornalista e pedagoga Mariana Sebastião, trabalha na comunidade desde 2014 e atualmente realiza um doutorado cujo o objetivo é a criação de uma Agência de Notícias com os jovens.

Inscrições abertas - Desafio 2019
Projetos protagonizados por crianças e jovens que estejam transformando a escola ou a comunidade já podem ser inscritos na 5ª edição do Desafio Criativos da Escola. Tanto estudantes quanto educadores podem enviar suas ações até o dia 30 de junho de 2019 (Clique aqui e acesse mais informações). Neste ano, entre outros prêmios, os sete grupos selecionados enviarão representantes a uma viagem a Roma (Itália).

Em 2018, a premiação recebeu 1.654 projetos de todos os estados brasileiros. É possível se inspirar nos projetos das edições anteriores do Desafio nas redes sociais do programa e em seu site que possui, entre outras coisas, um Material de Apoio aos educadores, um jogo voltado a estudantes, além de textos, vídeos e reflexões que podem contribuir com a prática pedagógica dentro e fora da sala de aula.

"Já chegamos a mais de 4500 projetos realizados por milhares de crianças e jovens de todo o país! São ações que transformam desde questões relacionadas à sustentabilidade até iniciativas que tratam sobre economia, história local, cultura, arte, inovação pedagógica e combate a bullying e preconceitos, por exemplo. Neste ano, estamos ampliando ainda mais este movimento, levando para o mundo estes projetos incríveis!", ressalta Gabriel Salgado, coordenador do programa Criativos da Escola.

Sobre o Instituto Alana
O Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão "honrar a criança".

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